segunda-feira, 29 de março de 2010

Solidariedade: idioma mundial

A história


Dia 27 de fevereiro de 2010, de madrugada. Dona Lucilia de Carmen Piña Vidal está sozinha em sua casa construída com adobe e madeira quando sente o chão tremer. Assustada e sem entender o que acontecia ela recolhe agasalhos, água e alimento e tenta fugir para rua. O movimento de ondulação é tão forte que não permite que ela sequer se mantenha de pé. Minutos depois ela consegue sair da casa e vê na estrada de terra onde mora, as árvores se entrecruzando. Dona Lucilia vive a 24 quilômetros de qualquer assistência médica ou comércio. Consegue chegar à casa de sua irmã e fica por lá até o amanhecer. Quando no outro dia retorna à sua vivenda, percebe que já não pode mais ficar lá. A casinha que era de seu avô e tem mais de 100 anos, está a ponto de desabar.

 A sala-cozinha da casa de Dona Lucilia feita de adobe e madeira.

Dia 27 de março de 2010, de madrugada. Dona Lucilia com seus ouvidos apurados e seu corpo atento a quaisquer movimentos vindos da terra, escuta ruídos de carros e caminhões vindos da cidade mais próxima de seu povo. Dentro dos veículos há solidariedade, boa vontade e esperança. Ela mal sabe, mais dentro de um dia terá uma nova casa.

O projeto

Pichilemu é uma cidade conhecida por lindas praias e agora também pela destruição causada pelo terremoto. Ela se encontra na IV Región Del Libertador Bernardo O´Higgins, ou seja, sexto estado chileno distante 260 quilômetros de Santiago. Há cerca de 25 quilômetros de distância, está El Maqui, pequeno povoado campestre que após o desastre de 27 de fevereiro, deixou centenas de famílias desabrigadas ou vivendo em casas com grande risco de desabamento.

 El Maqui, distrito da cidade de Pichilemu, que por sua vez está localizado na VI Región de Libertador Bernardo O´higgins.

Criado em 2007, o projeto Un techo para Chile tenta erradicar a pobreza no país a partir de construções de medias águas, que são casas emergenciais feitas de madeira e muita solidariedade. Todas as férias letivas (janeiro e julho) eles convocam estudantes de todo o país para construírem estas moradias em diversas regiões marginalizadas. Extraordinariamente, o projeto está atuando todos os finais de semana desde o desastre ocorrido no final das mesmas férias em função da quantidade de pedidos de ajuda no pós-terremoto. Na viagem deste último final de semana, o projeto conseguiu reunir cerca de 100 voluntários com a meta de colocar de pé 20 medias águas. Orgulhosamente pudemos realizar o feito com sucesso.

Héctor do Equador com sua fitinha da ação: Chile ayuda Chile. E eu completaria: "E os estrangeiros também".

Mãos à obra

Através da minha madrinha de intercâmbio, Constanza Egaña, quase todos os estudantes intercambistas da UANDES foram convocados para missão “El Maqui”. Nos juntamos aos demais estudantes e em dois ônibus e 4 horas de viagem chegamos ao povoado, às 3 horas da madrugada do sábado, 27. Dormimos em barracas montadas no pátio de uma escola primária da região e em 3 horas e meia estávamos de pé, com muito frio e à espera da saída do sol e de pormos a mão na massa. Fomos divididos em 17 quadrilhas de seis pessoas, cada uma encarregada da construção de uma casa. Além disso, todo grupo contava com a ajuda de um ou dois militares do exército chileno. Por uma falta de conhecimento da região, o primeiro dia rendeu pouco, pois nos perdemos, além de ficarmos atolados em um pequeno riacho da redondeza. 

O caminhão do exército atolado e todos pensando como tirá-lo de lá. A solução veio com um garoto da região que dirigia seu trator e passou por perto na hora. É gente ajudando gente! 

Primeiro dia: tratando de nivelar o terreno para depois instalar os pilares.

Por sorte, minha quadrilha era composta por minha madrinha, que era a chefe e meus colegas estrangeiros, o que facilitou a interação nossa. Além disso, fomos muito bem recebidos pela senhora dona da casa: Lucilia de Carmen. Antiga moradora da região e presidenta do grupo comunitário da vizinhança, ela nos tratou muitíssimo bem, sempre com uma risada divertida e uma história para contar de seus anos vividos na Alemanha. Os militares que nos auxiliaram também foram impecáveis. Muito engraçados, por acaso! Fizeram-nos rir muito com suas histórias como servidores do país. Militantes e militares juntos. Quem diria? Coisas do século XXI. Também fomos motivo de riso entre os moradores da região, inclusive o senhor Francisco Antônio, ou Don Corucho, como prefere ser chamado, que de minuto em minuto dava gargalhadas infinitas vendo o nosso despreparo com as ferramentas e a conversa confusa que resultava da diferença de sotaques e nacionalidades.

Verônica, Harry e eu nos preparado para o segundo dia. No fundo, nossas barracas.

Almoço preparado pela Dona Lucilia. Ajudamos matando as galinhas. Hehe!

Ninguém era experto em construção, mas todos queríamos muito poder contribuir de alguma forma para aquela senhora que com olhos atentos assistia o nosso trabalho. Dois dias estirados na terra vermelha, sem banho, cheio de picadas de sancudos (pernilongos), tendo que se adaptar ao clima que ora era quente, ora frio e ora garoa com muito vento. Com mãos e corpos doloridos pelo esforço feito, por volta das 21 horas de domingo pudemos entregar a casa pronta para Dona Lucilia, que emocionada nos agradeceu muito e prometeu por na sede comunitária o nome “Hermanos de todo el mundo”, em nossa homenagem.

Dona Lucilia (de preto) entre seu vizinho e seus irmãos, entre eles Don Curocho, de branco e rindo para variar! Haha!

Reunidas todas as quadrilhas, saímos exaustos da pequena vila. E no silêncio da viagem de volta, escutava-se o coração de cada um feliz por ter ajudado e com a certeza de que esta experiência levaremos por toda a vida.

5 comentários:

  1. hahaha...q bom ser solidario!!!
    Mto divertidas as fotos...e que piquititos o don curocho e a dona lucilia!!
    super fofos..parecem bonequinhos!
    hahaha
    beijoss

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  2. Não sabia q colheria frutos tão maravilhosos como tenho colhido.É que cuido bem do que planto mas nem percebo que já dão frutos.
    E saibam que os teus corações bateram sempre daqui prá frente juntos.









































































































































































    Que estes corações possam bater em sintonia pela eternidade. A alegria é pelo dever cumprido, vcs não se encontraram por acaso e bem sabemos disso.Que Jesus os fortaleça sempre e os abençõe.Lembrarei sempre deste momento em que estão vivendo juntos como familia,estarei sempre em prece por voces.
    Beijos carinhosos e fortalecedores.

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  3. Marcela,
    Emociante ler este seu post, uma das mais impressiontes iniciativas ja vista por mim, parabéns é pouco que eu poderia falar.Confesso que cheguei a me emocionar vendo as fotos e lendo este post, exemplos de ajuda como este deveria acontecer ao tempo todo pelo mundo, infelizmente nem sempre encontramos pessoas que estejam com a mesma determinação.
    No mais parabéns!

    Fred

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  4. A pessoa vai pra outro país e perde a noção. o que é essa calça de listras com essa meia, marcelan???? auhuahuhauhaua

    amei o post, mt lindo.

    beijos

    Ass.: rebeca

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  5. ei marcela!!
    de vez em qdo passo aqui... o blog tá bem legal!
    bom ver vc bem assim! =)
    mas hj tive que comentar! fiquei com os olhos cheios d'água com esse post... muito bonito msm isso td!
    bjao pra vc! =*

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